Pois é , depois de 36 anos sendo uma pessoa gorda, finalmente tenho a expectativa de me tornar mais uma pessoa magra.
BREVE RELATO :
Desde os 12 anos tenho problemas com a balança. Minha primeira ida ao médico ocorreu nesta época e estava 10 kilos acima do peso ideal. Fiz uma dieta a base de remédios tradicionais daquela época.
Aos 15 anos consegui chegar aos 60 kilos e até não achava que havia ficado bem. Mas alegria dura pouco e então começaram as oscilações, o que chamam de sanfona. Com 18 anos fui para um SPA linha dura e passei muita fome, A partir daí fiz todas as dietas que apareceram: da sopa, das frutas, só é gordo quem quer, da lua, do tipo sanguineo, dr. x, etc . E os remédios foram inúmeros, tradicionais, fórmulas milagrosas.
Hoje falam muito de bulling , na minha época de criança e adolescente era comum esta prática pelos "colegas", lá vem a baleia , etc .
Aos 15 anos entrei para um grupo de jovens de uma igrejapara me socializar, talvez aqueles jovens espiritualizados fossem mais compreensíveis com quem era diferente. E realmente foi assim, um ótimo período onde fiz muitas amizades que perduram até hoje. Eram muitas atividades, passeios, voluntariado, baladas. Nesta fase tive meu primeiro namorado, depois entrei para a faculdade e antes que terminasse já estava trabalhando e convivendo com os altos e baixos da balança. Me divertia muito, saía todos final de semana, como adoro dançar ia a todas as boates da moda, que saudade dos anos 70!
Depois do primeiro namorado vieram outros até que aos 27 anos me casei, tenho 2 filhos hoje com 16 e 14 anos maravilhosos que sempre aceitaram a mãe como ela é. Certa vez meu filho com uns 9 anos chegou em casa chorando, porque havia brigado com um amiguinho do condomínio, pois este havia "xingado" a mamãe. O menino falou " sua mãe é gorda !!! " e ele ficou muito chateado, sentei com ele e disse : "meu filho, ele não falou nada demais, ele disse uma verdade, deixe ele falar , ele só não pode mentir sobre a mamãe dizendo que sou uma pilantra ou outra coisa que não seja verdade" falei que não me incomodava e então ele assimilou a lição e nunca mais senti que minha condição o incomodava. Sempre levei e busquei meus filhos do colégio e sempre fomos companheiros , hoje sou a mãe participativa, que leva e busca a galera nas festinhas.
Convivia bem com meu excesso de peso, quem não convivia era a sociedade preconceitusosa.
Comentário do tipo : tão bonita de rosto, pena que é gorda ! " não faltaram, e nas lojas de roupas eu não podia entrar para comprar nem um presente pois a vendedora logo perguntava, " é pra você?" ou "não temos no seu número". A sensação que tenho é que quem é gordo chama mais a atenção do que todos, e assim procurava não usar roupas muito chamativas para tentar manter-me no anonimato, mas não era assim, parecia uma artista da broadway com aquele holofonte em cima da estrela.
Depois de 22 anos de trabalho como gerente de banco, na mesma empresa, fui demitida e realmente vi o era o peso da idade e o excesso de peso na hora da recolocação no mercado. Queriam só jovens e bonitos, a era da ditadura da beleza. resolvi então trabalhar por conta própria com eventos , buffet, restaurante etc, que eu tinha muita afinidade e com alto astral, meu ponto forte.paralelamente resolvir cursar outra faculdade, de Direito, vislumbrando uma carreira profissional mais longinqua.
Nestes últimos 10 anos fui desenvolvendo alguns problemas de saúde, hipertensão arterial, apnéia, dor nas pernas, coluna etc. E a unanimidade dos médicos era enorme , a solução é EMAGRECER. Esta palavra andava meio adormecida dentro do meu vocabulário, não tinha vontade de colocar em prática, de fazer dieta, de tomar remédio, já era uma gordinha conformada. Já sabia onde comprar minhas roupas , tinha meu trabalho, meus amigos já não me viam como gorda. Estava feliz ! Mas uma pergunta de repente bateu forte, " FELIZ ATÉ QUANDO ? ". Este questionamento começou a fazer parte do meu dia a dia, com a expectativa de vida voje de 70/80 anos ainda tinha muita estrada para rodar... Pensei que queria ver meus netos nascerem, brincar com eles, ser aquela avozona, sempre fui maezona. E a gota d'água foi depois de cerca de 5 anos com o mesmo peso em poucos meses engordei 8 kilos! E agora, a zona de conforto não existia mais, não tinha mais a garantia da estabilidade e foi aí que resolvi tomar uma decisão radical.
Em outubro de 2010 comecei a pesquisar sobre os prós e contras sobre a cirurgia de redução de estômago.
Pesquisei na internet, busquei nomes de médicos,plano de saúde, pessoas operadas e iniciei o processo, marquei uma consulta com o Dr. Barrosopara dezembro. Fui com uma prima muito amiga na condição de ela não contar a ninguém da família antes que estivesse totalmente convencida de que iria trilhar aquele caminho. Resultado, adorei o médico, senti segurança, comecei a frequentar mensalmente as reuniões de obesos e ex-obesos, comuniquei a familia e todos apoiaram . Em dois meses fiz todos os exames necessários, ultrassonografia de tudo, descobri até uma nova doença, estava com gordura no fígado, quase tive que fazer um cateterismo por conta de um teste ergométrico, mas felizmente outros exames mostraram que meu coração ainda estava sadio . Retornei ao médico em fevereiro , para marcarmos a cirurgia, e aí a ansiedade já era grande. Tinhamos que conciliar a agenda do médico, da equipe que o acompanha, do hospital e do plano de saúde. Depois de alguns dias enfim marcamos para o dia 28 de março, que será minha segunda data de aniverário, próxima da oficial que é 22 de março. Me preparei para o grande dia, o dia que iria deixar um passado de preconceito para trás , uma nova possibilidade de vida aos 48 anos.
Na ante-véspera mandei e-mail para meus amigos avisando que o dia havia chegado e recebi muitas mensagens de força e que estavam torcendo e rezando por mim, recortei e colei na parede do meu escritório em frente ao computador para de vez em quando ler e me fortificar.Postei mensagens no facebook e no orkut, foi muito legal. Acho que o apoio dos amigos e familiares nesta hora é fundamental. Afinal era uma grande cirurgia, e como todas envolvem riscos. Mas fiquei forte !
Operei no dia 28 na Casa de saúde São José, a cirurgia foi por vídeo, não precisei ficar no CTI, fui para um quarto da unidade semi-intensiva e já no 2o. dia estava livre da monitoração e começando minha nova alimentação. Não tive nenhuma dor, não passei mal, um leve enjôo e no 3o. dia tive alta e fui para casa. Já podia sentir o cheirinho do sucesso. Mas confesso, senti um pouco de medo e alguns questionamentos povoaram minha mente, será que vou conseguir seguir a risca a dieta ?Será que vai valer a pena o sacrifício ? Será que serei feliz ? Mais uma vez recorri as palavras dos amigos, mandei mensagens dizendo que tudo tinha corrido bem e que estava em casa, e mais uma vez recebi palavras de encorajamento, sobre as novas possibilidades que estão se abrindo, etc... Muito bom ! Minha familía está mobilizada, me ajudando a seguir as orientações médicas, me acompanhando e dando força.
A modalidade de cirurgia que fiz é a chamada de "GASTROPLASTIA VERTICAL C/ ANEL E BYPASS ", ganhei uma carteirinha identificadora para me acompanhar com os telefones dos médicos em caso de qualquer situação de emergência.
Meu último peso antes da cirurgia foi 115 k e tenho 1,68 de altura.
Passarei agora dar o meu dia-a-dia em novos posts !
